«Parecia um simples encosto de ombro para deitar abaixo o chamado regime capitalista […] o reinado da igualdade parecia estar ao virar da esquina».
Luigi Einaudi, economista liberal
Narrativa tradicional da história da reconstrução pós-Primeira Guerra Mundial: a coligação internacional trabalhou para restabelecer o padrão-ouro depois do conflito, com a intenção operacional de garantir e estabilizar as trocas comerciais globais. A austeridade emergiu, pois, para melhorar os indicadores económicos das nações, mediante a aplicação de uma maior disciplina económica.
Perspetiva deste livro: a austeridade funcionou como uma contraofensiva para silenciar greves e outras formas de agitação social que explodiram e alcançaram uma escala sem precedentes depois da guerra; foi, portanto, um elaborado exercício de dominação de classe; serviu – e serve, volvido um século – para preservar a indisputabilidade do capitalismo, isolando e protegendo as hierarquias durante os momentos de potencial transformação social.
Transcendendo as fronteiras disciplinares canónicas entre economia política, história económica, história do pensamento económico e história do trabalho e social, A Ordem do Capital, obra de Clara E. Mattei vencedora do Herbert Adams Baxter Prize de 2023 da American Historical Association, demonstra, a partir do relato dos triunfos da austeridade depois da Grande Guerra na Grã-Bretanha – berço do liberalismo clássico – e na Itália – pátria do fascismo –, como o sentido de oportunidade da invenção da austeridade reflete as motivações que a animam, e como a sua história coincide com a história seminal da rápida ascensão e do estrondoso poder político da economia moderna.
«A Grã-Bretanha e a Itália são inquestionavelmente entendidas como representantes de mundos ideológicos opostos. Todavia, quando a austeridade se torna o nosso foco histórico, as linhas de divisão começam a turvar-se. A austeridade transcende todas as diferenças ideológicas e institucionais, precipitando-se na direção de uma meta semelhante no seio de países dissemelhantes: a necessidade de reabilitar a acumulação de capital em contextos em que o capitalismo perdeu a sua inocência e cujas tendências classistas foram desmascaradas.»
Resultado de uma investigação de mais de uma década a documentos na Grã-Bretanha e em Itália em grande parte traduzidos pela primeira vez, transcrevendo debates parlamentares e citando inúmeros jornais da época, A Ordem do Capital, contributo central na proposta de uma abordagem à austeridade como baluarte vital de defesa do sistema capitalista, exige que se repense a relação entre o keynesianismo e o neoliberalismo, a história do neoliberalismo, a história do período entre guerras, e, especialmente, a história e a natureza do fascismo italiano.
Nas livrarias a 7 de março.