Terra, Casa, Trabalho
Há os que falam de uma nova Rerum Novarum e os que torcem o nariz ao pontífice «antiglobalização», que ataca em termos inequívocos o neoliberalismo mundial: mas para julgar é importante conhecer, e com este livro queremos chamar a atenção do leitor para as palavras proferidas pelo Papa em toda a sua simplicidade e radicalidade. Completam a obra uma entrevista com Juan Grabois, da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular, um posfácio do coordenador Alessandro Santagata, que analisa o primeiro ciclo de Encontros Mundiais dos Movimentos Populares e a evolução do pensamento político de Bergoglio, e uma introdução de Gianni La Bella.
«A grande inovação de que o papa Bergoglio é paladino consiste em dizer que é preciso amar e ajudar os pobres para conseguir o Céu, mas também que devemos levantar a cabeça e lutar aqui e agora, nesta terra e neste tempo. Se Il Manifesto divulga os discursos do papa Francisco não é por cortesia, nem por oportunismo. É porque sente como sua a mensagem do Papa. E deseja que os leitores a conheçam. Uma mensagem generosamente empenhada na solidariedade, mas firmemente crítica das políticas.» Il Manifesto (jornal italiano de esquerda) «"Este nosso encontro responde a um anseio muito concreto, a algo que qualquer pai, qualquer mãe, quer para os próprios filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais distante da maioria das pessoas: terra, casa e trabalho. É estranho, mas se falo disto, para alguns o Papa é comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo pelo que lutais, são direitos sagrados."
Assim disse o Papa Francisco no segundo dos três discursos imbuídos do seu "pensamento político", incluindo o pano de fundo - que afunda suas raízes na teologia do povo - onde o povo é identificado com um sujeito coletivo único, que se estrutura por uma cultura comum, compartilha o mesmo desígnio, preferindo a "mobilização popular" à "luta de classes". É claro, depois do salto desejado por ele, as relações entre Igreja e movimentos sociais não estão no fim da agenda romana. Além disso, foi totalmente superado todo o paradigma que sancionava a naturalidade da propriedade privada: "A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia.
É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada."»
Instituto Humanitas Unisinos, Brasil