Em 1996, numa altura em que as medidas de repressão contra o povo uigur, uma minoria étnica do noroeste da China, começavam a ser aplicadas, Tahir Hamut Izgil, um talentoso jovem poeta de Kashgar, na Região Autónoma Uigur de Xinjiang, foi detido na fronteira enquanto tentava sair do país. Depois de confessar, sob tortura, ter revelado segredos de Estado, o crime de que foi falsamente acusado, foi preso e levado para um campo de trabalho, onde esteve três anos. Apesar do sofrimento por que passou, quando foi libertado, no final de 1998, não desistiu. Refez a sua vida, tornando-se realizador de cinema a par de poeta.
Ao longo dos anos 2000, as condições políticas e as relações étnicas na região de Xinjiang deterioraram-se e as medidas repressivas foram endurecidas. Grande parte do sistema educativo em uigur foi eliminado e as crianças obrigadas a frequentar internatos onde o ensino se fazia apenas em chinês. Quando a discriminação dos uigures pela maioria Han se tornou omnipresente, a violência estalou entre os dois grupos. Centenas de pessoas morreram nas ruas de Xinjiang. Tahir foi espancado por vários manifestantes Han, que o interpelaram na rua, perguntando-lhe se era uigur.
Tahir sempre soube que ser intelectual na China significava assumir certos riscos. Mas com o escalar da situação e o surgimento de relatos de detenções maciças e deportações para campos de concentração, após ter sido interrogado pela polícia chinesa, tomou a decisão corajosa de pedir asilo aos Estados Unidos e fugir da China com a mulher, Marhaba, e as duas filhas. Tahir e a família chegaram aos Estados Unidos em 2017, país onde permanecem até hoje.
A incrível história de sobrevivência e superação de Tahir Hamut Izgil foi narrada pelo próprio em À Espera de Ser Preso durante a Noite. O livro, vencedor do John Leonard Prize em 2023, atribuído anualmente pelo National Book Critics Circle (NBCC) à melhor estreia literária em qualquer género, e considerado um dos melhores lançamentos do ano pelo The New York Times, The Washington Post e The Economist, denuncia a violenta repressão do povo uigur e presta homenagem aos escritores que permaneceram em Xinjiang e cujas vozes foram silenciadas pelo sistema de terror do Estado chinês. Esta dura e comovente narrativa, revela, como nenhuma outra, a destruição política, social e cultural dos uigures, ao mesmo tempo que chama a atenção para a catástrofe humanitária em curso.