Nélida Piñon nasceu a 3 de maio de 1934, no Rio de Janeiro. Esta sexta-feira, faria 90 anos. O aniversário será celebrado com várias ações, dentro e fora do Brasil, ao longo de 2024 e em 2025. Por escolha da família, as comemorações arrancarão esta sexta-feira no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas – FliPoços, no estado brasileiro de Minas Gerais, com o qual a escritora tinha uma ligação especial. Patronesse do evento em 2013, Nélida Piñon manteve sempre contacto com o festival e com os seus organizadores, nomeadamente com a curadora Gisele Ferreira, de quem se tornou amiga próxima.
As celebrações no FliPoços começarão de manhã, com a leitura conjunta do romance A República dos Sonhos, vencedor do Prémio da Associação de Críticos de Arte de São Paulo e do Prémio Ficção Pen Club em 1985. Esta será iniciada na Academia Brasileira de Letras, que teve Nélida Piñon como presidente, e continuada na Cidade da Cultura, um complexo cultural em Santiago de Compostela, na Galiza, região de onde a família da escritora era originária. A iniciativa, organizada pela Associação Galega da Língua (GAL), decorrerá durante cerca de 48 horas, terminando já no decorrer do dia 4 de maio. Será feita presencialmente e por vídeo, por leitores de vários países, e transmitida online pelo GAL.
Ao início da tarde de sexta-feira, a Casa de Leitura Dario Vellozo, em Curitiba, irá receber também uma sessão de leitura, mas do conto «O Jardim das Oliveiras», que integra o livro de contos O Calor das Coisas. Ao final do dia, em Poços de Caldas, decorrerá uma mesa comemorativa dos 90 anos de Nélida Piñon, com a presença do editor Rodrigo Lacerda, da Editora Record; do autor, jornalista e tradutor Eric Nepomuceno; e da assessora da escritora, Karla Vasconcelos, e será lançado o livro póstumo Os Rostos que Tenho, publicado em outubro de 2023 em Portugal pela Temas e Debates. A conversa será moderada por Gisele Ferreira.
Após a sessão, decorrerá a apresentação pública da futura Biblioteca Nélida Piñon, que será inaugurada durante a edição de 2025 do FliPoços. A inauguração encerrará o ano de comemorações dedicado à escritora que agora se inicia.
Paralelamente a estas iniciativas, encontra-se exposto no Parque José Afonso Junqueira desde o primeiro dia do festival, que começou a 27 de abril e que termina este domingo, 5 de maio, um painel dedicado a Nélida Piñon, da autoria da artista plástica Dani Werneck. «A obra reflete a grandeza de Nélida como pessoa, escritora e mulher de fé. Feito com cores vibrantes e na técnica grafite, a pintura traz a imagem da escritora e elementos da natureza e abstratos que representam vários espelhos, com frases pinçadas de livros de Nélida», informou a organização do FliPoços.
Importante escritora brasileira, Nélida Piñon nasceu em 1934 no Rio de Janeiro, numa família originária da Galiza. Formou-se em Jornalismo em 1956 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Colaborou em vários jornais e revistas literários e foi correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, em Paris. Publicou o seu primeiro romance, Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo, em 1961. Professora catedrática da Universidade de Miami desde 1990 e doutor honoris causa das universidades de Santiago de Compostela, Rutgers e Montreal, entre outras, foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras em 1996. Em 2004 foi eleita membro da Academia das Ciências de Lisboa.
A sua extensa produção literária, traduzida em diversas línguas, foi distinguida com numerosos galardões, entre os quais o Prémio Walmap (1969) pela novela Fundador; o Prémio Mário de Andrade (1972) por A Casa da Paixão, que será publicado em outubro deste ano pela Temas e Debates; o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe (México, 1995); o Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o Prémio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance A República dos Sonhos; o Prémio Iberoamericano de Narrativa Jorge Isaacs (Colômbia, 2001); o Prémio Rosalía de Castro (Espanha, 2002); o Prémio Internacional Menéndez Pelayo (Espanha, 2003); o Prémio Jabuti para o melhor romance (Brasil, 2005) por Vozes do Deserto; e o Prémio Literário Casa de las Americas (Cuba, 2010) por Aprendiz de Homero.
Em 2005 recebeu o importante Prémio Príncipe de Astúrias das Letras pelo conjunto da sua obra, o primeiro escritor de língua portuguesa a consegui-lo. Em 2012, foi nomeada Embaixadora Ibero-Americana da Cultura. Em 2015, recebeu o Prémio El Ojo Crítico Iberoamericano, concedido pela Rádio Nacional de Espanha.
Nélida Piñon morreu em Lisboa em dezembro de 2022.