«O homem é capaz de determinar o que fazer. A mulher, cuja faculdade deliberativa é inválida, não sabe resolver-se. O homem tem uma inclinação para dirigir. A mulher acomoda-se à submissão. O homem é um animal político. A mulher, um animal doméstico.»
Do ponto de vista do liberalismo moderno, a democracia antiga é profundamente antidemocrática. A mulher da Antiguidade não era admitida ao direito de cidadania. Considerada impotente, irracional e imprevisível, não tinha lugar na arena política. A sua faculdade deliberativa, afirmava Aristóteles, era «inválida».
Mais tarde, o cristianismo e o pensamento árabe perpetuaram estas e outras noções – com teóricos medievais como Tomás de Aquino e Alberto Magno a amplificar a invalidez decisória das mulheres – e, em pleno Século das Luzes, Jean-Jacques Rousseau considerava «inútil» a instrução igualitária.
Seria apenas com vultos como Condorcet – que substituiu as leis da natureza pelos direitos humanos – que a igualdade e a emancipação dariam os primeiros passos.
Este livro reconstrói os aspetos discursivos deste relato. Detendo-se em momentos cruciais, Giulia Sissa traça com brilhantismo, eloquência e humor uma história cultural numa obra que se impõe também como uma intervenção crítica sobre a linguagem dos feminismos contemporâneos.