Um amigo descreveu-a como uma mistura «de gueixa, precetora e irmãs Gish». Lawrence Durrell chamou-lhe «diva» com uma «faceta recatada e virginal». Gore Vidal parodiou-a, e disse que ela «dava mau nome ao narcisismo». E, embora apelidando-a de «eternamente inocente», Henry Miller acrescentou que ela era uma «prevaricadora muito hábil e perita» e «um ser muito ambivalente».
Afinal, quem era Anaïs Nin? Quando a própria autora escreve que, tal como Oscar Wilde, colocava a arte no trabalho e o génio na vida, representando «mil papéis diferentes», o seu retrato torna-se instantaneamente secreto e não diáfano – ao contrário do que seria de supor da mulher que alegadamente se revelou num diário de cerca de trinta e cinco mil páginas que a transformaria num mito.
Mas como disse Freud, quem inicia uma autobiografia «compromete-se com a mentira, a dissimulação e as ninharias», e o célebre diário de Anaïs Nin, escrito revolucionário aclamado por críticos literários e feministas, onde a autora revisita as suas aventuras sexuais, os romances com Henry e June Miller ou a complexa relação com o pai, era, na verdade, uma construção, uma criação para ordenar o caos, o abuso e a dor que a rodeavam.
Em Anaïs Nin – Vida Literária e Erótica, a premiada historiadora e biógrafa Noël Riley Fitch conta a história de uma mulher notável que se escondeu dos seus leitores atrás de um milhão de palavras, desmitificando a obra e a imagem da artista que o mundo conheceu como Anaïs.