As memórias dos anos da adolescência revividas e comentadas pela própria. Leonor Xavier encontrou, num dia de arrumações, entre papéis e postais, o relato esquecido da sua adolescência.
O diário que Leonor Xavier manteve entre 1956 e 1960 será publicado a 17 de fevereiro, o maravilhoso livro de memórias de uma das personalidades mais singulares da literatura portuguesa. Adolescência, que guarda as inquietações, os desacertos, os sofrimentos, as teimosias e as incertezas próprias de todas as adolescências, chegará às livrarias portuguesas numa edição lindíssima e ímpar da Temas e Debates, homenageando a autora que partiu recentemente.
«O meu diário descreve a vida privada em casa de família, e a vida exterior, nos estudos, nos convívios, nos rituais, nos espaços abertos. O conflito com os pais no dia a dia de regras, de falhas, de culpas. Os tempos dos irmãos. A amizade, o sentimento sensual de pertença. Os sinais do corpo, o existir da sexualidade, na ansiedade do querer saber.» Leonor Xavier fala-nos na linguagem verdadeira e transparente de uma adolescência vivida durante o Estado Novo, onde o silêncio só podia ser quebrado nas páginas do seu caderno.
«No país a preto e branco onde vivemos, não há voz nem liberdade de expressão, assim somos formados e educados, os nascidos nos anos 40, adolescentes no rigor da década de 50, jovens adultos na instabilidade dos 60. Existe censura no meu país censurante, onde toda a palavra ou gesto é observado, notado, apontado, julgado pelos outros. Para sim ou para não. O sim é o reparo, a crítica, o maldizer, é o escárnio, o murmúrio. O não é o saber estar sem som, sem exprimir emoção, além de agrado, em modo de conveniência e cerimonioso sorriso.»