Diz a sabedoria popular que se dermos um pontapé numa pedra da calçada em qualquer parte do mundo sai de lá um português. E na Patagónia, terra a que muitos chamam de «fim do mundo» não é exceção. Depois de Fernão de Magalhães atravessar o estreito que mais tarde ficaria com o seu nome, foram muitos os navegadores portugueses que se aventuraram naquelas terras sem deus. A Vida Extraordinária do Português que Conquistou a Patagónia, o novo livro de Mónica Bello, conta a história de José Nogueira, um dos portugueses que ficou na memória e na história do Chile e que foi o mais bem-sucedido dos pioneiros da Terra do Fogo. Chega às livrarias já no próximo dia 24 de julho.
Apesar de ser um nome (quase) desconhecido para muitos portugueses, José Nogueira é tido no Chile como uma das pessoas que ajudaram a escrever a história da Patagónia. Teria 12 ou 13 anos quando trocou as margens do Douro por um convés de navio, para fugir à miséria. Passou por Malta, Rio de Janeiro, Peru e Buenos Aires, mas foi ali, «onde a geografia chilena enlouquece e a fria costa patagónica é um intricado labirinto», que assentou arraiais. No vilarejo de Punta Arenas – terra de aventureiros, desterrados, índios, caçadores, deserdados e imigrantes – entre dois oceanos, nove minutos a sul do paralelo 53, na margem norte do estreito de Magalhães, José fez amigos, criou rivais, teve amores, fez fortuna, criou um império e passou de «o português» a «Don José».
Baseando-se em documentos oficiais da época, cartas, relatos e biografias de outros marinheiros e aventureiros que se terão cruzado com José Nogueira, Mónica Bello reconstrói com perspicácia e algum humor as pegadas deste português completamente desconhecido na sua pátria que, para o historiador chileno Mateo Martinic Beros, «se tivesse vivido 400 anos antes teria sido um Albuquerque, teria tido toda a Índia». Esta não é uma biografia baseada em factos reais. Esta é a história de vida de José Nogueira, marinheiro e terratenente. E é quase toda verdadeira.